O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é uma condição do neurodesenvolvimento, geralmente diagnosticado que afeta a forma como uma pessoa se comunica, interage socialmente e percebe o mundo ao seu redor. O termo “espectro” se dá pela ampla variedade de características e níveis de suporte necessários para as pessoas com TEA, variando de casos leves a mais severos. Ele pode ser identificado desde os primeiros anos de vida, frequentemente antes dos 3 anos, e persiste até a fase adulta, variando conforme os diferentes níveis de suporte utilizados atualmente.
Principais Características do TEA
- Dificuldades de Comunicação e Interação Social: Pessoas com TEA podem ter dificuldades em manter conversas, entender regras sociais implícitas, ou interpretar linguagem corporal e expressões faciais. Essas dificuldades variam de pessoa para pessoa, e algumas podem ser verbais enquanto outras podem não desenvolver a fala.
- Comportamentos Repetitivos e Interesses Restritos: Indivíduos com TEA podem demonstrar comportamentos repetitivos, como balançar o corpo ou repetir palavras (ecolalia). Além disso, podem ter interesses intensos em tópicos específicos, que podem mudar ao longo do tempo ou permanecer por longos períodos.
- Sensibilidade Sensorial: Muitas pessoas no espectro autista apresentam sensibilidades sensoriais, como aversão a sons altos, texturas de roupas ou luzes brilhantes. Essas sensibilidades podem impactar o dia a dia e influenciar as preferências e o comportamento da pessoa.
Diagnóstico
O diagnóstico do TEA é geralmente realizado por uma equipe multidisciplinar, incluindo psicólogos, psiquiatras e fonoaudiólogos, através da observação do comportamento e desenvolvimento da criança, bem como entrevistas com os pais ou cuidadores. Não existe um exame de sangue ou teste físico para diagnosticar o autismo, o diagnóstico é baseado em comportamentos e desenvolvimento.
O Transtorno do Espectro Autista é atualmente classificado através do Código Internacional de Doença, o CID-10, embora estivesse previsto que em 1º de janeiro de 2025 passaria a ter sua classificação de acordo com o CID-11, a atualização foi adiada para 2027. A 11ª revisão da Classificação Internacional de Doenças (CID-11) da Organização Mundial da Saúde (OMS) foi endossada pela 72ª Assembleia Mundial da Saúde em 2019 e entrou em vigor globalmente em 1º de janeiro de 2022. Enquanto no CID-10, o autismo é categorizado sob o código F84, que engloba transtornos invasivos do desenvolvimento, incluindo o autismo infantil, a síndrome de Asperger (nome não mais utilizado atualmente) e outros transtornos do espectro, no CID-11, a classificação foi atualizada para refletir melhor a diversidade do espectro, agrupando todos esses diagnósticos sob um único código: 6A02 – Transtornos do Espectro Autista. Essa mudança simplifica a compreensão do TEA como um espectro contínuo, reconhecendo variações na comunicação, comportamento e interação social, e especificando os níveis de suporte necessários. A transição para o CID-11 representa um avanço na abordagem do autismo, promovendo uma visão mais inclusiva e abrangente das diferentes manifestações da condição.
E onde se encontra a questão sobre os níveis de suporte? Eles fazem parte do diagnóstico dado baseado no DSM-5. O DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, 5ª edição) é amplamente utilizado como referência global para o diagnóstico de transtornos mentais, incluindo o Transtorno do Espectro Autista (TEA). No Brasil, embora o sistema oficial de classificação utilizado seja o Código Internacional de Doenças (CID) da Organização Mundial da Saúde, o DSM-5 é adotado por muitos profissionais de saúde como um complemento para a prática clínica. Isso se deve ao seu detalhamento e atualizações frequentes, que oferecem uma abordagem mais abrangente e contemporânea para o diagnóstico do autismo. A validade do DSM-5 no Brasil não é oficial em termos de regulamentação, mas sua aplicação é aceita e respeitada em ambientes clínicos, acadêmicos e de pesquisa, auxiliando profissionais a alinhar seus diagnósticos com padrões internacionais e proporcionando uma melhor compreensão das necessidades específicas dos autistas. Seguem abaixo informações sobre os níveis de suporte:
Nível 1: Pouco suporte
Indivíduos com TEA no nível 1 são frequentemente descritos como “altamente funcionais”. Eles podem ter algumas dificuldades com habilidades sociais e de comunicação, mas geralmente conseguem manter conversas e relacionamentos, embora de maneira limitada. As dificuldades podem se manifestar como desafios para iniciar interações sociais ou interpretar sinais sociais sutis. Essas pessoas podem ter comportamentos repetitivos ou interesses restritos, mas que não interferem significativamente na vida diária. Com algum suporte, como terapia social ou orientação, podem alcançar um bom nível de independência.
Nível 2: Suporte mais substancial
Indivíduos nesse nível apresentam dificuldades sociais e de comunicação mais evidentes e os comportamentos repetitivos podem ser mais aparentes e interferir no funcionamento diário. Podem ter dificuldades em lidar com mudanças e demonstrar mais resistência a situações sociais. Eles geralmente precisam de um apoio mais consistente para a comunicação e a interação social, e intervenções como terapia comportamental e suporte educacional são frequentemente necessárias para ajudá-los a se adaptar e funcionar melhor no dia a dia.
Nível 3: Suporte muito substancial
Pessoas nesse nível têm grandes desafios na comunicação, podendo ser não verbais ou ter um vocabulário muito limitado. A interação social é significativamente comprometida, e os comportamentos repetitivos são intensos e constantes, afetando diretamente a capacidade de realizar atividades diárias. Elas podem ter extrema dificuldade com mudanças e necessitar de assistência constante para se adaptar a novas situações. Suporte intensivo, tanto na vida cotidiana quanto em contextos educacionais e terapêuticos, é essencial para ajudar essas pessoas a desenvolverem habilidades básicas de comunicação e autocuidado.
Intervenção
A intervenção no autismo envolve um conjunto de abordagens e estratégias personalizadas para atender às necessidades específicas de cada pessoa com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Essas intervenções são baseadas em avaliações individuais e podem incluir terapias comportamentais, educativas, de comunicação, entre outras. Aqui estão algumas das principais intervenções utilizadas:
- Análise do Comportamento Aplicada (ABA): ABA é uma abordagem amplamente utilizada que se concentra em melhorar comportamentos específicos, como habilidades sociais, comunicação e aprendizado. É baseada em princípios de reforço positivo e estruturação do ambiente para incentivar comportamentos desejados.
- Intervenções Baseadas na Comunicação:
- Terapia de Fala e Linguagem: Focada em melhorar habilidades de comunicação verbal e não verbal.
- Sistemas Alternativos e Aumentativos de Comunicação (SAACs): Incluem o uso de dispositivos de comunicação, imagens ou linguagem de sinais para ajudar na comunicação.
- Terapia Ocupacional: Ajuda a melhorar habilidades motoras, de coordenação, sensoriais e a capacidade de realizar atividades diárias.
- Intervenções Baseadas em Sala de Aula: Incluem adaptações curriculares, ensino individualizado e métodos específicos para promover a aprendizagem.
- Modelo TEACCH (Treatment and Education of Autistic and related Communication-handicapped Children): Foca na estruturação do ambiente físico e no uso de suportes visuais para ajudar na compreensão e no desenvolvimento de habilidades.
- Modelo Denver de Intervenção Precoce (ESDM): Focado em crianças pequenas, integra aspectos do desenvolvimento em sessões de jogo e interação.
- Floortime/DIR (Developmental, Individual-difference, Relationship-based model): Concentra-se em seguir os interesses da criança e construir interações emocionais significativas.
- Intervenções Médicas e Farmacológicas: Medicamentos podem ser prescritos para tratar sintomas associados ao autismo, como ansiedade, hiperatividade ou distúrbios de sono, mas não tratam o autismo em si.
- Intervenções Familiares e Suporte: Envolver a família no processo é essencial para garantir a continuidade das estratégias de intervenção em casa e no dia a dia.
A escolha das intervenções depende das características individuais da pessoa com autismo, incluindo suas habilidades, desafios, idade e ambiente. É importante que as intervenções sejam baseadas em evidências científicas e que envolvam uma equipe multidisciplinar para fornecer um suporte abrangente.
Você já escutou alguns dos mitos abaixo sobre o Autismo?
- “Todas as pessoas com autismo possuem habilidades extraordinárias”
Realidade: A ideia de que todas as pessoas com TEA têm habilidades excepcionais, como memórias fotográficas ou talentos artísticos extraordinários, é amplamente popularizada por filmes e pela mídia. Embora algumas pessoas com autismo possam exibir habilidades específicas acima da média (fenômeno conhecido como savantismo), isso é relativamente raro. A maioria das pessoas no espectro autista tem uma ampla gama de habilidades e desafios, assim como qualquer outra pessoa.
- “Vacinas causam autismo”
Realidade: Este é um dos mitos mais prejudiciais sobre o autismo. A crença de que vacinas, especialmente a tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola), causam autismo se originou de um estudo desonesto e amplamente desacreditado publicado em 1998, que foi posteriormente retirado e desmentido por pesquisas científicas rigorosas. Não há evidências científicas que liguem vacinas ao autismo e esse mito continua a ser desmentido por especialistas em saúde pública e pesquisas globais.
- “Pessoas com autismo não têm emoções ou não querem interagir socialmente”
Realidade: Pessoas com autismo têm emoções e podem desejar conexões sociais, mas podem expressá-las de maneiras diferentes. Alguns podem ter dificuldades em iniciar ou manter interações sociais da forma tradicional, mas isso não significa que sejam indiferentes aos sentimentos dos outros ou que não desejem amizades. Compreensão e paciência são fundamentais para construir relacionamentos significativos com pessoas no espectro.
- “Autismo é uma condição que pode ser curada”
Realidade: Não existe uma cura para o autismo porque não é uma doença. O autismo é uma condição permanente do neurodesenvolvimento que faz parte da diversidade humana. O foco deve ser na aceitação, no apoio e nas intervenções que ajudem a melhorar a qualidade de vida e a independência das pessoas com TEA, respeitando suas diferenças e necessidades individuais.
- “Pessoas com autismo são todas iguais”
Realidade: O termo “espectro” no Transtorno do Espectro Autista reflete a ampla variação na forma como a condição se manifesta. Cada pessoa com autismo é única, com suas próprias habilidades, desafios e personalidades. Alguns podem ser altamente independentes, enquanto outros podem precisar de suporte significativo em seu dia a dia. Não existe uma experiência única que represente todas as pessoas com autismo.
- “Os pais são culpados pelo autismo dos filhos”
Realidade: No passado, teorias desatualizadas sugeriram que o autismo era causado por pais “emocionalmente frios” (teoria das mães-geladeira), o que é completamente falso e sem base científica. O TEA é um transtorno complexo com uma base genética significativa e múltiplos fatores biológicos e ambientais envolvidos. Culpar os pais é injusto e infundado.
Trabalhando com estudantes Autistas
Ensinar estudantes autistas pode ser uma experiência enriquecedora, mas também desafiadora. Cada aluno é único e entender suas necessidades específicas é fundamental para promover um ambiente de aprendizagem inclusivo e acolhedor. Aqui estão algumas orientações para apoiar esses estudantes de forma eficaz:
- Conheça o aluno: Dedique tempo para entender as necessidades, preferências e interesses do estudante autista. Converse com os pais ou responsáveis, leia relatórios de especialistas e, se possível, observe o comportamento do aluno em diferentes contextos.
- Crie rotinas estruturadas: Estudantes autistas geralmente se sentem mais confortáveis com rotinas previsíveis. Estabeleça horários claros, explique as atividades do dia e avise com antecedência sobre qualquer mudança na programação.
- Use recursos visuais: A comunicação visual, como quadros de horários, cartões de instruções passo a passo e pictogramas, pode ajudar os alunos autistas a compreender e seguir as atividades propostas. Recursos visuais são especialmente úteis para instruções complexas.
- Ambiente de sala de aula: Mantenha um ambiente organizado e minimamente estimulante para reduzir distrações. Evite barulhos excessivos e luzes fortes que possam causar desconforto sensorial.
- Adapte as avaliações e tarefas: Seja flexível com as avaliações. Alguns alunos podem se beneficiar de avaliações orais, trabalho prático, mais tempo para concluir as tarefas, provas e atividades objetivas. Adapte as atividades para se alinharem às habilidades e ao estilo de aprendizagem do aluno.
- Incentive a comunicação: Respeite o estilo de comunicação do aluno, seja ele verbal, não verbal, ou por meio de dispositivos de comunicação alternativa. Incentive expressões de sentimentos e ideias de forma que o aluno se sinta seguro e compreendido.
- Promova a inclusão social: Fomente um ambiente de respeito e empatia entre todos os alunos. Promova atividades que encorajem a interação social e ajude os colegas a entender e aceitar as diferenças.
- Seja paciente e flexível: Entenda que pode haver dias mais desafiadores e que a paciência é chave. Ajuste as expectativas e esteja preparado para modificar planos conforme necessário.
- Colabore com Especialistas: Trabalhe em parceria com o professor de AEE ( Atendimento Educacional Especializado), psicólogos, terapeutas ocupacionais e outros especialistas que acompanhem o aluno para alinhar estratégias e intervenções que melhorem a experiência educacional do estudante.
Quer aprender mais? Assista os vídeos abaixo e amplie seu conhecimento sobre o assunto.
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