O capacitismo é a discriminação e o preconceito contra pessoas com deficiência baseado na crença de que indivíduos sem deficiência são superiores. Essa visão coloca as pessoas com deficiência como “anormais” ou “inferiores”, o que leva a sua marginalização e exclusão em diversas áreas da vida como educação, mercado de trabalho e interações sociais. Talvez o termo não seja tão conhecido, mas infelizmente é algo que muitas pessoas com deficiência enfrentam todos os dias em suas vidas.
De acordo com a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU em 2006, bem como a Lei Brasileira da Inclusão (LBI) em 2015, a discriminação deve ser combatida para garantir igualdade e inclusão. No Brasil, a luta contra o capacitismo inclui a promoção de políticas públicas que visam garantir a igualdade de oportunidades e a inclusão social. E é importante dizer que capacitismo é crime. O art. 88 da Lei nº 13.146/15 criminaliza o capacitismo, prevendo as condutas de “praticar, induzir ou incitar discriminação de pessoa em razão de sua deficiência”, no entanto a implementação efetiva dessas políticas ainda enfrenta desafios significativos.
Na realidade brasileira, o capacitismo é um problema persistente e enraizado nas estruturas sociais e culturais que pode se manifestar de várias maneiras, incluindo barreiras arquitetônicas que impedem o acesso físico, a falta de adaptações razoáveis em locais de trabalho e de estudo, e atitudes preconceituosas que reduzem as oportunidades de participação plena na sociedade. Ele pode se manifestar de maneiras sutis, como na falta de acessibilidade em prédios públicos ou na forma como falamos e pensamos sobre deficiências. Por exemplo, quando alguém usa a deficiência como motivo de piada ou presume que uma pessoa com deficiência não consegue realizar certas tarefas, isso configura capacitismo. No Brasil, o capacitismo pode ser observado em diversas situações, desde a falta de acessibilidade em locais públicos até o modo como a mídia retrata as pessoas com deficiência. Por exemplo, em um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi destacado como a falta de representatividade na mídia contribui para a perpetuação do capacitismo, como mencionou Silva ( 2021).
No mercado de trabalho, o capacitismo ainda resulta em falta de emprego entre pessoas com deficiência, que frequentemente são vistas como menos capazes ou menos produtivas. Essa percepção errônea ignora o potencial e as habilidades dessas pessoas contribuindo com exclusão econômica e social. Além disso, mesmo quando empregados, indivíduos com deficiência podem enfrentar discriminação salarial e falta de oportunidades de promoção. De acordo com o IBGE (2023) o rendimento médio real recebido por mês relativo ao trabalho principal das pessoas com deficiência foi de R$1.860, equivalente a 70% do rendimento médio para o total Brasil (R$ 2.652), enquanto as pessoas sem deficiência recebiam R$ 2.690, 1,4% acima da média nacional..
As consequências do capacitismo também se refletem na saúde mental das pessoas com deficiência. A constante desvalorização e estigmatização podem levar a problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade, agravados pelo isolamento social e pela baixa autoestima. O ambiente físico e social muitas vezes não é acolhedor, criando barreiras que limitam a interação social e a mobilidade.
Outra manifestação do capacitismo é o paternalismo, onde pessoas com deficiência são tratadas como objetos de caridade ou assistência, em vez de indivíduos com direito à autonomia e autodeterminação. Essa atitude pode restringir a liberdade pessoal e a capacidade de tomar decisões independentes, perpetuando a ideia de que pessoas com deficiência são incapazes de cuidar de si mesmas.
O capacitismo é uma forma prejudicial de discriminação que perpetua a desigualdade e a exclusão das pessoas com deficiência e para combatê-lo, é fundamental promover uma cultura de inclusão e respeito, eliminando barreiras físicas e atitudinais, e implementando políticas que assegurem a participação plena de todos na sociedade. A educação e a conscientização são ferramentas essenciais para desafiar e acabar o capacitismo permitindo a construção de um ambiente mais inclusivo e equitativo para todos.
É essencial a promoção de uma mudança cultural que combata o capacitismo. E isso envolve educar as pessoas sobre a diversidade e riqueza que as experiências de vida das pessoas com deficiência trazem para a sociedade. Cada um de nós tem um papel a desempenhar e podemos começar aprendendo e falando sobre o assunto, questionando nossas próprias atitudes e crenças, além de apoiar políticas públicas e iniciativas que promovam a inclusão e os direitos das pessoas com deficiência.
O capacitismo é um desafio enfrentado por todos nós, direta ou indiretamente. Reconhecer, compreender e agir contra o capacitismo é um passo crucial para a construção de uma sociedade verdadeiramente inclusiva.
Após a leitura dessas informações, entendendo agora sobre o assunto e refletido sobre suas atitudes, será que você já teve alguma atitude capacitista?
Será que você usa expressões capacitistas?
A seguir você encontra uma lista com expressões capacitistas que devem ser evitadas juntamente com possíveis alternativas para você substituí-las e usar no seu dia-a-dia. Lembramos que evitar expressões capacitistas é importante para criar uma sociedade mais inclusiva e respeitosa e que usar linguagem que respeite todas as pessoas é essencial para reconhecer e valorizar a diversidade humana.
- Não use: “Você é um retardado” ou “Isso é retardado”. Substitua por: “Isso é bobo/absurdo/sem sentido.”
- Não use: “Você é um cego” ou “Você não enxerga isso?” Substitua por: “Você não percebeu isso?” ou “Você não viu isso?”
- Não use: “Ela é aleijada”. Substitua por: “Ela tem uma deficiência física”
- Não use: “Você está se comportando como um autista”. Substitua por: “Você está distraído..”
- Não use: “Essa ideia é esquizofrênica”. Substitua por: “Essa ideia é confusa.”
- Não use: “Nossa, que bipolar!” Substitua por: “Você está mudando de opinião muito rapidamente.”
- Não use: “Ele é um deficiente. Substitua por: “Ele é uma pessoa com deficiência.”
- Não use: “Isso é coisa de maluco”. Substitua por: “Isso é inusitado/estranho.”
- Não use: “Ele é autista, por isso não entende”. Substitua por: “Ele tem autismo, vamos explicar de outra forma.”
- Não use: “Dar uma mancada.”. Substitua por: dar uma gafe”, “faltar com o compromisso”, “ser sacana”, “errar”.
- Não use: Está cego/surdo?”. Substitua por: “Você prestou atenção no que eu disse/mostrei?”, “Você poderia me responder o que te perguntei?”.
- Não use: “Não ter braço para alguma coisa”. Substitua por: “não temos pessoal para isso”, “não temos força de trabalho suficiente”, “não temos estrutura para isso”.
O capacitismo é uma barreira invisível, mas poderosa, que impede a plena inclusão das pessoas com deficiência em nossa sociedade. Reconhecer essa forma de discriminação é o primeiro passo para combatê-la, mas precisamos ir além. Precisamos que cada um de nós, como indivíduos e como parte de uma comunidade maior, se comprometa a desafiar as atitudes capacitistas em todas as esferas da vida, seja na linguagem que usamos, nas políticas que apoiamos ou nas interações cotidianas, cada ação conta. Ao nos tornarmos aliados na luta contra o capacitismo, estamos não apenas defendendo os direitos das pessoas com deficiência, mas também promovendo uma cultura de respeito, dignidade e igualdade para todos. O futuro inclusivo que desejamos começa com as escolhas que fazemos hoje.
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